Eurico Borba, Relexões sobre a Crise Global ......

Sociologia´, Política e Religião

Textos

Boa Noite
Boa Noite

Para Mariza


Querida, sinto-me mal apenas dizendo boa noite,
no entanto me parece apropriado, no momento atual
em que, optando pelo silêncio, sufoco sem um mínimo de comunicação.
Só para te dizer, também, que tem chovido e feito sol,
no jardim plantei quatro árvores e espalhei algumas pedras,
com minhas próprias mãos.
Rasguei muitos papeis guardados há quarenta, vinte anos,
e as fotos que encontrei. Antes de destruí-las, tentando apagar lembranças,
revivi aqueles momentos que você diz comandarem minha vida...
O passado é meu presente, "o futuro a Deus pertence...".
O Gore Vidal, na boca de um dos seus personagens,
no livro Criation, que a Mila me deu, diz algo muito sábio:
"não sabemos quando estamos sendo felizes, sabemos quando fomos felizes...".
Ninguém permanece vivo sem ser feliz, nem que seja por intercalados instantes.
Instantes em que se procura, sempre, reviver, readquirir, recompor,
refazer, renascer, momentos muito especiais, essenciais,
como expressão mesmo do sentido e da razão de vida.

Noite vazia quase sempre é monótona – esta é uma noite particularmente vazia,
triste, monótona, sem perspectivas,
sem você...
Noites e dias da semana toda, sem agenda para o dia seguinte, é a brutal constatação da inutilidade da existência presente:
o passado não criou nada, o presente não promete nada, o futuro,
com o bater do relógio, amedronta,
com uma grande interrogação – não é um som,
tic-tac, tic-tac, tic-tac,
marcando um tempo que passa,
é indagação atormentadora sobre a razão do espaço vazio que estou a construir,
a cada instante,
um buraco escuro e enorme na minha frente...
Orações – vamos orar, vamos orar.
Orações de repente, passam a parecer rodas de preces, que os lamas tibetanos fazem girar, girar, girar,
mais por rotina que acalma, do que por convicção devota que eleva a mente às proximidades de Deus.
De repente uma luz: - a solução existencial se faz óbvia: - cultivemos
o fim que liberta, (de qualquer maneira), ou a vida que poderá vir a libertar.

Guardei as nossas fotos.
Não paro de pensar em você.
Não sei como posso te dizer tudo isto sem esconder,
o que realmente sou e
só mostrar determinação, audácia, coragem – amor...
proclamando, tendo tua imagem com farol destino,
(que agora, desesperadamente, saio a procurar – será que ainda está lá?):
- droga, vou ser eu uma vez mais e sempre.
Dane-se a ofertada circunstância de Dom Ortega – criarei a minha.

Eurico de Andrade Neves Borba
Enviado por Eurico de Andrade Neves Borba em 09/04/2008


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