Eurico Borba, Relexões sobre a Crise Global ......

Sociologia´, Política e Religião

Textos

Não haverá empregos para todos...
Não haverá empregos para todos...


Para o querido amigo irmão, Augusto Sampaio,
que protege os oprimidos não nos deixando esquecer dos que sofrem.





Quando o desemprego campear e
os marginalizados da sociedade forem bilhões,
aí que eu quero ver
aonde vai parar a tal tão decantada
solidariedade,
a tal de democracia,
a tal de justiça de
“dar a cada um o que lhe é devido,
como pessoa...”.
Vai ser “um pega prá capar”
da melhor qualidade....


E a tecnologia, hem? Hem?
Está desempregando prá dedeu...
já há algum tempo.
Falam da produtividade, que aperfeiçoa a produção e diminui custos,
mas não dizem que extingue postos de trabalho, que nunca mais serão ocupados nem substituídos.
A robótica, a telemática, o mundo web,
necessariamente dispensam mulheres e homens,
de seus empregos, que dificilmente vão recuperar e
poder voltar trabalhar, registrando, assim, suas presenças na HISTÓRIA.
Cidadãos, cidadania, mais que mandatos constitucionais, outorgados no nascimento,
são atitudes de vida,
expectativas de necessária convivência,
fraterna e tolerante,
há milênios desejada.


Os donos do poder, com controles remotos nas mãos,  mandam e desmandam, permitindo, de acordo com seus critérios muito próprios, que algumas vidas humanas
realizem suas naturezas dignas e outras não,
extinguindo a liberdade e a solidariedade,
pois, afinal, não conhecem alternativas de algo melhor e os cidadãos e cidadãs participantes da gandaia,
a felizarda elite, necessitam sobreviver...


Quem não é doutor e não possua carteirinha de sócio que vá prá puta que os pariu...
Não atrapalhem o progresso, não contestem o mercado, não incomodem com seus espectros miseráveis, que enfeiam a paisagem, nada acrescentando ao  SISTEMA...


Os políticos não entendem mais nada,
os partidos políticos se entregaram aos marqueteiros que vendem, ao povo, não princípios mas candidatos,
e o pior – adaptam a maneira de pensar
e de querer
dos povos
aos interesses dos donos do poder...
que passam a decidir por todos,
liquidando, com elegante sutileza,
a democracia e a liberdade,
fazendo troça da justiça...


Como, neste ambiente humanamente ambíguo, afirmar e pregar que o progresso da tecnologia precisa ser controlado?


Quem o fizer será taxado de ignorante, louco, ingênuo ou de poeta...


Como dizer que pesquisar e desenvolver técnicas, produtos e equipamentos que curem doenças pode, mas que máquinas e processos que desempreguem garçons, bancários, frentistas de postos de gasolina, motoristas, limpadores de rua, balconistas, não pode?


Como dizer e transformar em lei que os postos de trabalho, que foram criados por uma ação coletiva, de milhões de pessoas, produtores e consumidores, patrões e empregados, doutores e analfabetos, em séculos sucessivos de esforços conjuntos, são propriedade efetiva da humanidade e só dela e não podem ser extintos por ação unilateral de uma pessoa só ou por decisão de um grupo de acionistas majoritários?


Postos de trabalho não são bens, passíveis de serem apropriados e contabilizados – são as únicas

POSSIBILIDADES DE VIDA PLENA PARA TODOS


O ideal seria uma situação em que pessoas sábias, dando muitas explicações à sociedade, dissessem o que pode ou o que não pode ser aperfeiçoado, como novas tecnologias, em razão dos postos de trabalho que irão ser extintos e os benefícios globais que seriam gerados.


Este sonho, que poderia vir a ajudar a salvar a humanidade, da catástrofe que ela mesmo engendrou,
como uma trágica armadilha para si mesma,
não se concretizará.
Não se concretizará enquanto você leitor não estiver absolutamente convencido que os demais são teus


IRMÃOS e IRMÃS.


Você esquálida criatura que vive em Benin, você de olhos arregalados e remelentos aí nas cercanias de Lima, você que trabalha como doméstica lá em Quixadá, você que se encolhe de frio nas ruas de Boston, você que troca um ícone sagrado por um pão nas escadas do belo metrô de Moscou, você que exausto de tanto procurar emprego contempla abobalhado o progresso das ruas de Kyoto, vocês são meus irmãos? Tenho alguma obrigação para com vocês? Ora, danem-se, ok?
Danem-se.


Todos vocês foram, um dia,
bem ou mal,
convidados a se unirem, mas não responderam ao chamamento, como

TRABALHADORES.

Todos vocês, hoje, estão sendo convocados como

SOBREVIVENTES...

Todos vocês e todos os demais
- os que mandam e usufruem do progresso também -
estão sendo chamados,
gentilmente,
educadamente,
ainda não revolucionariamente,
em nome dos nossos antepassados,
dos nossos sonhos libertários e igualitários de outrora,
em nome de Deus,
a darem as mãos,
a cooperarem, espontânea e livremente,
fraternalmente,
isto é - sendo verdadeiramente irmãos –


O convite é para que
- exijam o necessário, mas não esgotem mais
a mãe terra;
- antes de ganhar mais pensem, com amor, no irmão desempregado e gerem um posto de trabalho.
Façam algo, logo,
– por amor ou cínico interesse de garantir a própria sobrevivência
façam, logo, alguma coisa, pois senão vamos todos

DESAPARECER.

Olhem aí o aquecimento da atmosfera,
a escassez de água potável, as chuvas ácidas,
a camada de ozônio, as espécies animais e vegetais
- testemunhos do mistério da vida que também são –
e que estão a desaparecer.
Gente, acreditem, parem prá pensar um instante,
com honestidade intelectual,
responsável e consequentemente,
acreditem que não se está exagerando e que
se assim continuarmos a proceder, a viver,
vamos todos

DESAPARECER...

Todos, pois no momento da consciência de que só alguns poucos vão ficar,
prá gozar o progresso,

O ÓDIO SUBSTITUIRÁ O AMOR.

Poetas á frente.
Poetas, irresistível nova vanguarda profética.
Poetas, armados com os vossos poemas, instrumentos insuperáveis para destruir os grilhões de velhas e opressoras formas de pensar, tornem-se os esperados algozes sagrados da justiça final, sabendo estrangular, fazendo sangrar,
sobre a terra vilipendiada e sedenta de vingança,
todos os que puderam fazer alguma coisa e não fizeram
para salvá-la...
Todos os que permaneceram silenciosos ou inertes,
irresponsáveis, imbecilmente ricos e poderosos,
a usufruir vitaminas, decisões parlamentares e exposições de van Gogh,
que, no entanto,
soube explodir o sol para manter o ideal da luz...

Estendam a mão enquanto é tempo...


Liberté, Egalité, Fraternité


Chamamento que correu o planeta inteiro,
sacudindo, com sua lógica força moral e humana,
dinastias e opressões,
fez tanto bem promovendo a liberdade,
mas não resolvendo o problema do mal social...
Ofereceu razões e justificativas à manutenção
de um sistema que reconhecia a pobreza, a miséria,
a dominação, como o natural resultado
da convivência livre das pessoas...
Quem falhou?
Quem errou?
Quem se esqueceu de explicar às gentes
que somos todos irmãos?...
As religiões? A academia? Os artistas? Os intelectuais?
Perceberam que a partir do extraordinário mote,
da genialidade política francesa,
que a igualdade prosperou,
que a liberdade aproxima-se de ser uma realidade,
mas a fraternidade é um deboche coletivo?
Constituições e leis consagram, cada vez mais,
o ideal humano da liberdade e da igualdade,
mas não se pode legislar obrigando cidadãos e cidadãs

A  SER  F R A T E R N OS...

O dístico revolucionário fracassou
no seu integrado ideário original...
Homens e mulheres, do mundo inteiro, não souberam, não quiseram ser fraternos...

O tripé revolucionário,
uma bela proposta de convivência,
sem uma perna de sustentação, não vingou...


SOBREVIVENTES DO MUNDO UNI-VOS...


sacudam maneiras de pensar,
as formas de organizar e fazer funcionar as sociedades.
Não esperem mais as igrejas que se perderam em intrincadas discussões teológicas, arrogantemente tentando ensinar a Deus a ser Deus...; nem aguardem mais as esquerdas que estão desnorteadas entre a opção de um lanche no Macdonad’s ou de colocar uma bomba na casa de um inexistente burguês.
Busquem forças e inspiração na consciência da
intrínseca dignidade do homem e da mulher, propriedade de cada um e de mais ninguém.
Será o primeiro passo para restaurar a perspectiva do necessário Humanismo,
da supremacia da pessoa humana no processo histórico,
do amor vencendo a competição.

Democracia e liberdade, justiça e solidariedade, paz e amor, só começarão a existir quando, em solenes e competentes discussões humanas, concluírem e
decretarem que João e Maria continuarão a trabalhar,
plantando milho, amassando pão,
e depois se amando com ternura
em noites límpidas e suaves,
tranqüilos com o amanhecer
que os encontrará em seus lares,
em torno de carinhosas refeições familiares,
preparando-se para mais um dia de trabalho honesto,
enquanto o HAL, do Clarke e do Kubrick,
e os simpáticos robôs do George Lucas,
permanecendo ficção,
continuando a voar lá pros os quintos do universo...


(Publicado in Gerundio, dezembro de 2007)
Eurico de Andrade Neves Borba
Enviado por Eurico de Andrade Neves Borba em 21/04/2008


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