Eurico Borba, Relexões sobre a Crise Global ......

Sociologia´, Política e Religião

Textos

A Música e as suas Notas
A Música e as Suas Notas




Querendo encontrar alguém que o escute,
o menino canta feliz
dizendo, atordoado, que descobriu
que as notas musicais estão por aí,
no ar
voando espalhadas,
no meio do silêncio,
prontas para serem tocadas,
cantadas,
é só saber juntá-las.


Aqui e acolá,
Lá,
as encontraremos soltas
pelo Cosmo afora, nas estrelas e      
no Sol, também.
Fá-lam de um Ré-quiem
composto por Deus
há Mi-lhões de anos.
Uma primeira composição,
para chorar
com Dó
a angústia da vida,
o pecado das suas criaturas,
tão sofridas,
tão perdidas...


Antes de tudo ter acontecido,
sequer existido,
à procura de criar o belo,
- plenitude da ordem e do bem,
pobre imitação de Si,
já que nem Ele pode mostrar o infinito que É,
Deus criou as notas musicais e as aspergiu pelo espaço.
A primeira explosão criadora
abençoando o infinito com o som que produziu.
Gesto extremo do pressentido desencanto, impotente,
da irreversível Criação
da liberdade que libertara
com a consciência dada a sua criatura mais querida
aquela que logo, num primeiro instante,
Lhe iria virar o rosto.


O som cósmico do rodopio das galáxias
foi o que primeiro uniu
as notas musicais,
dispersas na quietude cósmica.
Depois as estrelas explodindo em luzes,
a terra contorcendo-se,
gemendo com os vulcões
no parto dos vales, planícies, florestas, desertos e montanhas,
e os ventos fortes zunindo, pejados de chuva,
inseminando ventres diversos,
todos ansiosos em parir formas de vida.
A seguir vieram os pássaros,
pousados na pauta dos galhos das árvores,
ensinando a cantar, docemente,
no ritmo do balanço dos corpos,
os amantes
enquanto descobriam o amor.
Despudorados e suados,
sussurrando alto, muito alto,
cada vez mais alto,
êxtases e juras eternas,
desilusões abissais,
cantaram e seus corpos, como cordas e sopros vibrantes,
fizeram soar as primeiras sinfonias.
E por fim as criancinhas também,
sozinhas, rindo ou chorando,
chamando seus pais
para brincarem de roda,
cantando a canção do menino que,
no início,
queria, apenas, chamar a atenção...



(Publicado in Amada do Sonho, Frente Editora, 2001)

Eurico de Andrade Neves Borba
Enviado por Eurico de Andrade Neves Borba em 28/04/2008
Alterado em 04/01/2017


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